Medo de fogos de artifício?

Logo que começam a se anunciar os festejos de final de ano, muitos tutores começam a se afligir com o que vem pela frente. Não é incomum nos depararmos com cães com alto nível de energia e aquele apetite voraz, que acabam sendo motivo de momentos não tão bons assim quando as festas de final de ano são realizadas na casa de suas famílias.
Além disso, um distúrbio comportamental relativamente comum é a fobia de barulhos, que se agrava muito em épocas de muitos rojões sendo estourados (como é o caso das noites de 31 de dezembro) e trovões (também presentes de forma intensa nos meses de verão no Hemisfério Sul).Medo de fogos de artifício
Muitos costumam afirmar que cachorros não gostam de barulhos de fogos de artifício ou trovões, pois sentiriam dor, já que seu ouvido é um órgão muito sensível. Sabemos que a capacidade auditiva dos cães é mais apurada que a nossa, que vai de 20 Hz a 20 kHz, sendo que os cães conseguem ouvir sons emitidos a até 45 kHz. Uma capacidade auditiva muito maior do a dos seres humanos, portanto.

Mas, na verdade, a causa da fobia é outra: barulhos muito altos, graves, vindos de longe, significam para o cão que algo de errado está acontecendo; significa, literalmente, perigo! O medo de sons como o de fogos de artifício, portanto, nada mais é do que resquício evolutivo do instinto de sobrevivência!

Além disso, alguns fatores podem ser considerados agravantes: se o cachorro tiver um temperamento medroso inato e, durante a fase de sociabilização primária, tiver passado por uma situação que lhe tenha causado medo extremo em razão juntamente com o som de fogos de artifício ou uma tempestade acontecendo, este trauma pode perdurar por toda a sua vida.

Treinos
Dessensibilização e contra condicionamento são os treinos utilizados nesses casos. A dessensibilização consiste em expor o animal gradualmente ao estímulo causador dos comportamentos de medo, antes de surgirem os sinais de pavor. Já o contra condicionamento consiste em mudar a reação do cão ao estímulo de medo.

Para colocar em práticas as duas técnicas, costuma-se utilizar o som gravado daquilo que causa medo (no caso, fogos de artifício) e colocar para o animal ouvir em um volume mais baixo, enquanto ele come, brinca ou faz outras atividades que goste bastante. É importante utilizar um equipamento que reproduza sons com qualidade, pois os cães são capazes de perceber claramente a diferença entre o som real e um som mal gravado.

Com o tempo e à medida que se percebe que o cão está reagindo tranquilamente com o som ocorrendo, pode-se aumentar o volume, oferecendo petiscos e brincadeiras com a gravação mais alto e/ou mais perto. Mas é importante aumentar o estímulo somente quando ele se mantiver calmo diante desse nível de estímulo. A cada etapa, aumente o volume aos poucos.

Se durante os treinos o cão demonstrar sinais de ansiedade ou os sintomas de medo, é preciso retroceder uma etapa. O sucesso desse treino depende muito da paciência em aguardar que o cão se adapte aos sons de forma gradativa, à medida que faz associações positivas com sua ocorrência.

Fogos de artifício são realmente necessários?
Muitas campanhas têm surgido nas mídias sociais nos últimos anos, tendo por objetivo incentivar as pessoas a celebrarem sem necessidade de usar rojões, biribas, etc. Estes apetrechos causam medo extremo não só aos cães, mas também a gatos e animais em geral, prejudicando o bem-estar da fauna local.

Cassia Rabelo Cardoso dos Santos, adestradora e consultora comportamental na Cão Cidadão.