Raças nacionais reconhecidas pela CBKC

Quase todas estarão presentes na Exposição Mundial, realizada de 8 a 11de dezembro em São Paulo-SP

Foto: Divulgação

Prestes a sediar o World Dog Show (Exposição Mundial de Cães) da Federação Cinológica Internacional (FCI), nosso país conta com nove raças nacionais registradas pela Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), uma das 98 associações afiliadas a FCI. Esta última reconhece oficialmente, até o momento, o Fila Brasileiro, o Rastreador Brasileiro e o Terrier Brasileiro. E está em vias de reconhecer o Buldogue Campeiro. Confira um histórico da aceitação, pela FCI ou CBKC, e os preparativos para a participação de cada uma delas no grande evento.

FILA BRASILEIRO

Foto: Ronaldo Rufino/Cão: Rei Singular Premium, campeão mundial/Prop.: Harrison Pinho

“Eis a primeira raça brasileira reconhecida pela FCI”, diz Antonio Roberto Sene, vice-presidente da Sociedade Paulista do Fila Brasileiro (SPFC). A aceitação ocorreu em 1960. Roberto explica que a SPFB, criado em 1991, é a continuação do Clube Paulista do Fila (CPF), fundado em 1955. “Somando os dois, são 67 anos de existência: o CPF perdeu seu registro junto a CBKC por divergência”, conta ele.
Em 2000 foi criado o Conselho Nacional do Fila Brasileiro (Confila). “Entre 38 e 40 cães da raça foram inscritos para a Exposição Mundial da FCI em dezembro”, informa Eduardo Henrique Ferreira, o atual coordenador do Confila.
Raça de grande porte, o Fila Brasileiro é o mais alto e pesado entre os cães nacionais reconhecidos pela CBKC: idealmente, sua altura na cernelha é de 65 a 75 cm nos machos e de 60 a 70 cm nas fêmeas (o mínimo de peso para os varões é de 50 kg e, para as cadelas, de 40 kg). Pelo padrão CBKC são permitidas as cores: tigrado; dourado; baio; preto. Marcações brancas são admitidas apenas no peito, patas e ponta da cauda – em outras áreas, são indesejáveis. Esse cão é muito usado na guarda e proteção da família. “Conheci o Fila em 1983, quando tinha apenas 11 anos e, desde então, permaneço impressionado com sua rusticidade e o fato de sentir um amor tão grande pela família humana que não há necessidade de adestrá-lo para a guarda”, comenta Harrison Pinho, do canil Singular Premium, de Fortaleza.

RASTREADOR

Foto: Renata Souza/Prop. do cão: canil Serra da Canastra

O primeiro reconhecimento para o Rastreador Brasileiro pela FCI foi em 1967. Mas, em 1973, ele foi dado como extinto: o plantel do canil de Oswaldo Aranha Filho, idealizador da raça, foi dizimado em decorrência de uma epidemia de piroplasmose e pela aplicação excessiva de veneno contra carrapatos. Mas uma matéria de Cães & Cia de 1998 mostrou cães que mantiveram o tipo da raça vivo. O resgate da raça foi concluído em 2012, quando a CBKC passou a registrá-la novamente. “O Rastreador Brasileiro passou então a participar ativamente em exposições. Contava também, naquele momento, com um programa de adestramento oficializado pela CBKC, o Cão Funcional, que elaborou e aplicou provas oficiais de busca de pessoas na selva”, relata Janott Coelho, coordenador do Conselho Brasileiro da Raça Rastreador Brasileiro, fundado em 2021.
Mais tarde, a CBKC solicitou a reintegração da raça junto a FCI, que aceitou o pedido em 2020. “Após um longo trabalho e levantamento de documentos, tivemos então o reconhecimento pela FCI. O Grupo de Aprimoramento da Raça Rastreador Brasileiro também foi muito importante para a reintegração”, comenta Janott. Ainda inédito no exterior e desconhecido por muitas pessoas no Brasil, para divulgá-lo está sendo editado o primeiro livro sobre a raça, O Rastreador Brasileiro, escrito por Ivan Luís Cruz Gomes, do canil mineiro Serra da Canastra. A previsão é que esteja disponível em plataformas digitais em dezembro, a princípio no formato e-book. “Nele foram avaliados mais de 50 cães pelos seus criadores, proprietários e adestradores. Conta com belas fotos e depoimentos comoventes”, relata Ivan.
Na Exposição Mundial foram inscritos nove exemplares da raça, sendo a grande maioria da região Norte. “O Rastreador voltou a concorrer em 2013, no grupo 11, de raças ainda não admitidas pela FCI. Após o reconhecimento da FCI em 2020, ele mudou para o grupo 6, dos sabujos e rastreadores. Exemplares têm ganhado título de campeão em diversas classes, mas as dificuldades aumentaram um pouco, já que agora disputa com raças consagradas”, diz Marcus Tulio Costa, vice-presidente do GARRB. “Já existem alguns cães da raça vencedores de grupo e também de Best in Show”, destaca Janott, que, quanto às provas de trabalho, afirma: “Estou elaborando novos testes de aptidão e provas de rastreio, específicos para a raça.
Em 2021, a CBKC registrou 70 exemplares da raça, quatro a mais que em 2020. “Em 2022 os números vão crescer, pois observo o surgimento de novos criadores e está sendo feito um grande trabalho de divulgação da aptidão da raça para atuar como cão de resgate nos corpos de bombeiros, civil ou militar”, acredita Marcus.

TERRIER BRASILEIRO

Fotos: Arquivos dos criadores (canil Terra de Vera Cruz)/Cão:
Multicampeã Jabuticaba do BR Terra de Vera Cruz e prop. do cão (canil Chaputepek)/Cão:
Darah do Chaputepek, bicampeã mundial da raça respectivamente.

Chamado no passado de Fox Paulistinha, o Terrier Brasileiro teve até selo lançado em 1999. Foi reconhecido pela FCI em 1995. “Tiveram importância fundamental Marina Vicari Lerario, do canil Taboão, de São Paulo, e Leyla Rebelo, do canil gaúcho Rebelo’s Beauty, recentemente falecida e que, nessa época, era vice-presidente da CBKC”, diz Mauro Sérgio Prizibela, do canil paranaense Terra de Vera Cruz, 1º lugar entre os de todas as raças pela CBKC em 2021.
Ele ainda relata que, entre1964 e 1973, exemplares eram registrados nacionalmente, mas, depois, devido ao baixo número, o Terrier Brasileiro perdeu o direito ao pedigree. E só voltou a tê-lo em 1985, depois de um longo trabalho do Clube do Fox Paulistinha (CFP), no qual Marina era presidente. “Ele foi fundado em 1981 por Marina, pelo árbitro Marcos Hotz, do canil Rancho Grande, entre outros”, conta Mauro, que está escrevendo um livro sobre a raça. “Na verdade, se trata de uma obra que o Celso dos Anjos, a quem considero o melhor criador da raça da História, deixou pela metade”, diz ele. Celso, já falecido, era o titular do canil Terra da Pituva, além de ter presidido o Clube Gaúcho do Terrier Brasileiro (CGTB).
No primeiro semestre de 2023, Marina e o cinófilo Ivan Luís Cruz Gomes trabalharão com a atualização do livro O Fox Paulistinha, escrito por ela em 1991. Em outubro, Marina, que andava afastada, julgou a raça em exposição do Kenel Clube São Paulo (KCSP). E, se por um lado o CGTB e o CFP já não existem, esse cão conta, desde 2017, com o Conselho Brasileiro do Terrier Brasileiro (CBTB). “Estamos tomando as primeiras medidas para o processo de reconhecimento dele no American Kennel Club (AKC)”, conta o presidente do CBTB, Carlos Flaquer. Principal entidade cinófila dos EUA, o AKC não é afiliado à FCI.
No FCI World Dog Show 2022 mais de 80 cães da raça foram inscritos. “A única exposição com maior participação de exemplares de Terrier Brasileiro do que esta foi uma especializada na Finlândia, em 2017, na qual julguei e que contou com 120 espécimes – mas, considerando Mundiais, esta reunirá um número recorde de cães dessa raça”, afirma Carlos.

BULDOGUE CAMPEIRO

Foto: Edmilson Reis/Cão: Trabuco AP Molosso di Jerivá

Ele está em processo de reconhecimento pela Federação Cinológica Internacional (FCI). “Finalizamos recentemente os últimos detalhes para tal”, conta o vice-coordenador do Conselho Brasileiro da Raça Buldogue Campeiro (CBRBC), Fernando Starling.
A responsável pelo pedido de aceitação pela FCI foi a Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC), que começou a emitir registros para o Buldogue Campeiro em 2001. “A iniciativa de propor o reconhecimento da raça pela FCI é da CBKC, por meio do diretor técnico Ricardo Simões”, relata Fernando. Ele explica que o CBRBC preparou uma apresentação bem completa sobre a raça e a enviou para a CBKC em março de 2021. Esta última então a analisou e solicitou uma revisão com acréscimos de alguns trechos fundamentais para o reconhecimento pela FCI. “Como questões da documentação, traduções do padrão, entre outros”, diz Fernando. O processo contou também com uma significativa ajuda de Clarice Oliveira, presidente da Federação Cinológica do Rio Grande do Sul (FECIRS) que, juntamente com uma comissão de criadores da raça, coordenada por Luciano Kruel, organizou então a documentação, entre outros. “Conforme cumpríamos cada um desses passos, enviávamos o material para a CBKC encaminhar para a FCI, que foi dando OK sucessivamente”, conta Fernando. O último requisito concluído para finalização do trabalhos e refere aos exames de DNA. “Nós os fizemos em muitos cães e eles foram encaminhados para a FCI recentemente. Como se vê, atendemos a tudo, o processo foi finalizado: a chance de aprovação é de quase 100% e a oficialização deverá ocorrer durante a Exposição Mundial em dezembro, mas pode acontecer de não se conceder a aceitação por eles acharem que falta mais alguma demanda”, diz Fernando. Estarão presentes 18 cães da raça no evento, nenhum deles do exterior, onde vivem hoje mais de 50 Campeiros, principalmente nos Estados Unidos.
Com aptidões tanto para guarda quanto para o trabalho com gado, o Buldogue Campeiro começou a ser criado de maneira organizada pelo gaúcho Ralf Schein Bender, falecido no ano retrasado.

PASTOR DA MANTIQUEIRA

Foto: Arquivo do criador do cão (Jônatas Severino)


A mais nova raça nacional reconhecida pela CBKC é o Pastor da Mantiqueira. Desde janeiro de 2015 ele conta com uma entidade especializada, a Associação Brasileira do Cão Pastor da Mantiqueira (ABRAPAM). “A proposta de buscar a aceitação pela CBKC partiu do veterinário e associado, André Saramago, que trouxe o contato do Ricardo Simões, diretor técnico da CBKC”, conta Jônatas Severino, do setor de comunicação da ABRAPAM. “Gosto de raças nacionais, tenho um apreço genuíno por elas e foi isso que me motivou”, diz André.
Ricardo então foi convidado a conhecer melhor a raça no VII Encontro do Cão Pastor da Mantiqueira, em maio de 2022. “Lá houve uma primeira reunião, na qual foi colocado o objetivo de ambas as partes, sendo acordado a ABRAPAM intermediar as questões relacionadas às aberturas de canis e emissão de pedigrees aos cães, seguindo seus próprios critérios de avaliação”, diz Jônatas.
Em agosto a CBKC solicitou uma segunda reunião, no KCSP, para ajustar o padrão racial nos moldes CBKC/FCI e reafirmar os detalhes da parceria. “Foi decidido que os documentos, tanto de abertura de canil quanto os pedigrees, passariam a ser organizados pela ABRAPAM”, conta Jônatas. Em outubro, os primeiros canis e pedigrees começaram a ser efetivados.
Na Exposição Mundial da FCI participarão, no mínimo, cinco cães da raça. “A criação foca na lida como gado, o mundo das exposições é algo novo e que precisamos compreender melhor”, diz Jônatas. Há canis associados à ABRAPAM em Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. “Mas existem vários outros criadores pelo Brasil afora e, já há algum tempo, cães da raça são enviados para o exterior, como Uruguai, Paraguai e Estados Unidos”, conta Jônatas, que acrescenta: “Um do pontos discutidos na reunião de agosto foi pleitear o importante reconhecimento para a raça pela FCI. Em breve, com o apoio da CBKC, a ABRAPAM preparará uma apresentação formal do Pastor da Mantiqueira – o mundo precisa ter de conhecer o nosso cão e suas qualidades”.

TAMBÉM ADMITIDOS NACIONALMENTE

Foto: Samy Rychen/Cão: Cherry de Tasgard/Prop.: canil Tasgard

Guardião e companheiro, oDogue Brasileiro foi reconhecidopela CBKC em 2000. Na ExposiçãoMundial apenas um exemplar daraça foi inscrito. “Ele é um cãofuncional, não costuma participarde exposições, embora semprebusquemos a perfeição morfológi-ca: das 13 provas que temos feitopara selecionar os Dogues, 12 sãode temperamento e uma de mor-fologia”, diz o desenvolvedor doDogue Brasileiro, Pedro Dantas,presidente do clube especializadona raça, oBull Boxer Club.

Foto: Bibbo Camargo/Prop. do cão: canil Morada de São Chico

O Ovelheiro Gaúcho também foi aceito pela CBKC em 2000. Em junho de 2019 foi declarado como animal símbolo do Rio Grande do Sul, reconhecido como patrimônio cultural e genético do Estado, uma iniciativa do departamento do Ovelheiro Gaúcho da Fecirs junto à Assembleia Legislativa de lá. “Foi algo muito divulgado entre os criadores”, conta Ana Luiza Schames, do canil Morada de São Chico, de Porto Alegre. No Mundial, cerca de 20 Ovelheiros estarão presentes.

Foto: Arquivo do criador dos cães (canil Chama Rancho A.R.)
Foto: Arquivo do prop. do cão (canil Boca Brava)/Cão: Xirú

O Veadeiro Pampeano foi outro reconhecido pela CBKC em 2000. Mas, com o falecimento do principal responsável pela sua criação organizada em 2005, o cinófilo Carlos Bacelar, houve queda nos pedigrees e a entidade os suspendeu de 2012 a 2020. Voltou a ser registrado em 2021, graças ao trabalho de resgate da raça que vem sendo realizado pela FECIRS. “A criação vem passando por um período de expansão com novos canis em São Paulo e Mato Grosso”, diz Ariel Ril, do canil Chama Rancho A.R., de Erechim, RS, criador dos dois Veadeiros que participarão da Exposição Mundial. Já o Buldogue Serrano, que foi aceito pela CBKC em 2009, mesmo havendo aumento de interesse pela raça, nenhum exemplar foi inscrito no Mundial. “Como o foco da criação é o manejo com o gado, não existem criadores envolvidos com exposições e poucos buscaram se associar a alguma entidade cinófila e registrar cães”, conta Ivanor Oliviecki, de Erechim, RS, idealizador e responsável técnico pelo trabalho de preservação do Serrano.

Agradecemos as Associações:
Associação Brasileira do Cão Pastor da Mantiqueira – abrapam.org
Bull Boxer Club –www.instagram.com/bullboxerclub/
Conselho Brasileiro da Raça Buldogue Campeiro – www.facebook.com/conselhobrbc
Conselho Brasileiro do Terrier Brasileiro – https://conselhoterrierbr.weebly.com
Conselho Nacional do Fila Brasileiro – Instagram: @confilacbkc,e-mail:admconselhofb@caes-e-cia2020
Departamento do Ovelheiro Gaúcho – www.instagram.com/dogfecirs/
Departamento do Veadeiro Pampeano da FECIRS – https://www.facebook.com/federacaocinologicars.fecirs
Grupo de Aprimoramento da Raça Rastreador Brasileiro – www.rastreadorbrasileiro.com.br

Por Fabio Bense



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