Savannah: felino de aparência selvagem encanta pet lovers ao redor do mundo

 

  Por trás da nome da raça – Savannah – existe mais que um gato. Existe uma sequência de felinos. Todos eles com um ancestral em comum: o Serval, ágil e bonito felídeo carnívoro que vive nas savanas da África

A causa de diferenciação entre os Savannahs é o grau de parentesco deles com o Serval. Os de primeira geração, chamados de F1, que têm o felídeo selvagem como pai (geralmente o macho é selvagem e a fêmea, doméstica), não são a mesma coisa que os F2, de quem o Serval é avô. E os dois, por sua vez, diferem dos F3, cujos filhos finalmente chegam ao patamar em que as gerações adquirem homogeneidade. “Considera-se que a raça Savannah começa efetivamente na geração F4”, diz Solange Mikail, do Kashmircats, responsável por trazer a raça para criação no Brasil em 2007.


Gatos do Cerrado/ Edmilson Reis. Gato: Vicky

Valiosas primeiras gerações

Os Savannahs das três primeiras gerações são registrados como Savannahs de fundação e encarnam a transição entre o felino selvagem e o gato doméstico. Afinal, a presença do DNA do Serval no Savannah é de, no mínimo, 50% na geração F1, caso o cruzamento tenha sido feito com gato doméstico, mas pode ser de 75% se o acasalamento acontecer com um Savannah F1 com 50% de sangue selvagem. Essa porcentagem irá se reduzindo nas gerações seguintes, amenizando cada vez mais a herança selvagem.

Impacto visual: Uma conjunção de fatores dá destaque à aparência das três primeiras gerações de Savannah. Um deles é o grande porte alcançado pelos F1 e os machos F2, que chegam a ser 2,5 vezes maiores que a média dos gatos domésticos. Tanto que, as edições de 2010 e 2011 da publicação Guinness World Records trazem como gato mais alto do mundo, com 41,87 centímetros na cernelha, o F1 Savannah Scarlett’s Magic, do gatil norte-americano A1 Savannahs, responsável pelo desenvolvimento da raça. O porte se reduz gradativamente até a geração F4, quando tende a se estabilizar. O empresário Daniel Thomazelli, de São Paulo, lembra-se de como o tamanho de seu F2 influi na força da mordedura: “Quando damos coxa de galinha para Yuki, ele estraçalha os ossos; sobra muito pouco, às vezes, nada.”

A aparência exótica dessas três gerações é mais marcante graças às proporções corporais mais extremadas em conjunto com o desenho da pelagem que remete aos felinos selvagens. Não à toa, a criadora Solange, que tem Savannahs de primeiras gerações, se tornou alvo de investigação policial. “Alguém denunciou que na minha casa havia animais silvestres e tive de mostrar aos policiais que os Savannahs eram uma raça de gatos, com padrão oficial e pedigree concedidos por associação gatófila”, diverte-se ela.

Atleta dos bons: As primeiras gerações do Savannah são excepcionalmente ativas. “Brincam e caçam qualquer coisa que se mova”, diz Solange. “Com apenas um salto, Yuki ‘voa’ até o topo de armários, a 2 metros do chão”, admira-se Daniel. Essa capacidade, herança do Serval, que chega a pular 3 metros para capturar aves em pleno voo, é considerada recorde entre gatos. “É preciso tomar cuidado com os impactos dos saltos de grande altura para evitar microlesões nos músculos ou ossos”, aconselha o criador Rogério Sousa, do gatil Gatos do Cerrado, de Brasília. “O ideal é que o impacto seja amortecido por algo como carpete, almofada ou colchão.”

Maior independência: Essa é outra característica marcante dos Savannahs de primeiras gerações. Thomazelli compara seus Savannahs de duas gerações diferentes: “O F2 Yuri me convida para brincar muito menos frequentemente que o F5 Montblanc e, quando ignoro o convite, vai logo brincar sozinho”, relata. “Por sua maior independência, o meu F2 também não faz sucesso com as visitas, ao contrário do F5 Montblanc.” Rogério acrescenta que principalmente os F1 e F2 são um pouco mais reservados com pessoas que não conhecem e interagem no tempo deles com seus donos. 

Disposição para fuga: Solange lembra que esses gatos, por serem independentes e ágeis, podem fugir com facilidade se as devidas precauções não forem tomadas. “Não devem sair de dentro da moradia sem estar na guia e as janelas só podem ser abertas, mesmo as de apartamento, se estiverem teladas.”

Perseverança: As primeiras gerações da raça são também mais intensas e determinadas, conforme observa Brigitte Cowell, diretora da organização norte-americana de recolocação de Savannahs devolvidos, o Savannah Cat Rescue (svrescue.com), e criadora da raça pelo Kirembo Savannahs. Thomazelli confirma. “Meu F2 é bem insistente para pedir comida e, quando quer atenção, trança minhas pernas e as da minha namorada a ponto de tropeçarmos nele. Também é o F2 quem determina o caminho a seguir quando o levo para caminhar conduzido na guia. Se eu quero que o F2 pare de fazer algo, preciso fingir que estou furioso para ele me obedecer, o que não acontece com o F5.” 

Resistência a mudanças: Outra característica que Brigitte observa nas primeiras gerações de Savannahs é a maior resistência à mudança de ambiente e à adaptação a novos lares. 

Pavio mais curto:  Quando provocados, os Savannahs de geração F1 a F3 se irritam mais facilmente. Mas Brigitte, assim como os entrevistados participantes desta reportagem, observam que a maior proximidade dessas gerações iniciais com o Serval não produz agressividade nem antissociabilidade. “O próprio Serval é um animal sociável e domesticável”, explica Brigitte.

Na mira de legisladores: Gatos híbridos, casos do Savannah e do Bengal, são vistos por legisladores de alguns países, Estados como animais com potencial para desequilibrar o ecossistema por causa do instinto selvagem em conjunto com a habilidade para caçar. Por esse motivo, o Savannah é proibido na Austrália. Nos Estados Unidos, a proibição ocorre em Nebraska, Geórgia, Rhode Island, Havaí e Maryland, mas nesse último Estado só se o híbrido pesar mais de 13,6 quilos. Já os Estados norte-americanos de Alaska, Iowa, Massachussets, New Hampshire e Vermont permitem a posse a partir da geração F4 e Delaware a partir da F4 só com permissão. O Estado de Nova Iorque libera a partir da geração F5, mas a cidade de Nova Iorque proíbe. Colorado autoriza, mas a cidade de Denver, não. Seattle, em Washington, proíbe. Os Estados de South Dakota e Virginia só permitem mediante solicitação. No Estado do Texas, vários municípios proíbem (mais detalhes da legislação estão em www.hybridlaw.com).

Não aceito em exposições: As gerações F1 a F3 não podem participar de exposições, pois não competiriam em pé de igualdade com as gerações mais distantes e se estressariam mais facilmente no ambiente da exposição.

Difícil reprodução: Não se conhece animal de estimação mais caro que os Savannahs das primeiras gerações. Para se ter ideia, o gatil A1 Savannahs vende seus F1 por 12 a 22 mil dólares, os F2 por 9,6 a 16,6 mil dólares e os F3 por 4,1 a 6,6 mil dólares. A justificativa para valores tão elevados é a dificuldade de produzir o F1. É complicado e oneroso dispor de Servals, já que são animais selvagens. No Brasil, por exemplo, a importação é proibida pelo Ibama.

O cruzamento entre as duas espécies – o Serval (Leptailurus serval) e o gato doméstico (Felis catus) – é complexo. Muitas vezes, o felino selvagem não aceita acasalar com o doméstico e, quando o cruzamento acontece, são frequentes os casos de aborto, absorção de fetos e parto prematuro. Nas ninhadas, as dificuldades continuam. “Todos os machos das gerações F1 a F4 são inférteis e as fêmeas F1 e F2 dificilmente se reproduzem”, comenta Solange. “As dificuldades persistem nas gerações F3 e F4, ficando mais fácil trabalhar a partir da geração F5”, completa a criadora. 


Kashmircats/Namibia Gato: Namibia

   A partir da quarta geração

Nessa etapa, a criação se liberta do excesso de influência do Serval e a seleção genética realizada pelos criadores passa a fazer toda a diferença. “Graças à seleção genética, as rosetas do Bengal, gato descendente do Leopardo Asiático, são mais bonitas hoje que as do ancestral selvagem, apesar de a raça estar muito mais distante da geração F1 que o Savannah”, exemplifica Solange, que também cria Bengals, desde 2004.

O verdadeiro Savannah: Da geração F4 em diante, o Savannah típico é um felino grande, em comparação com os gatos em geral. Tem exclusiva marcação de pelagem e proporções corporais diferenciadas. Seu temperamento é menos agitado que o das primeiras gerações e também é mais ligado ao território onde vive. 

Esses são os gatos recomendados por Brigitte para quem espera ter um felino tranquilo ou para quem tem gato idoso ou calmo. “Em casos assim, os Savannahs das primeiras gerações não são recomendáveis, por seu alto grau de atividade e teimosia”, explica Brigitte.

Preço mais amigável: Da geração F4 em diante, o gatil A1 Savannahs cobra entre 1,8 e 9,6 mil dólares, ou seja, o valor mínimo é menos da metade do valor mínimo da geração F3.

   Animadores de ambiente

A disposição para a atividade torna os Savannahs de todas as gerações bons animadores do ambiente doméstico. “São gatos curiosos, ativos, alertas e aventureiros, sempre prontos para brincadeiras e interações com o dono, para explorar um cantinho novo ou fazer alguma travessura, como abrir portas e acender lâmpadas”, comenta Rogério. “Gostam de brincar com água, pegar folhas que caem na superfície de piscinas, por exemplo, mas não costumam entrar na água”, conta Solange.

O entusiasmo de Thomazelli com o comportamento de seus Savannahs F2 e F5 não é menor. “Não há tempo ruim para eles”, comenta o empresário. Thomazelli conta que logo que Yuki e Montblanc percebem que a namorada dele e ele acordaram, a dupla de gatos mia na porta do quarto. “Tanto meu F2 quanto meu F5 correm pela casa inteira, brincando de um pegar o outro; usam as paredes para fazer curvas e derrubam tudo que há pela frente, o que faz meu apartamento não ter vasos, estátuas e outros afins”, ri ele. “Já minha Bengal prefere ficar na dela”, acrescenta. Quanto a apreciar colo, ambos os Savannahs de Thomazelli agem igual. “Gostam, mas somente quando são eles que procuram a mim e à minha namorada, caso contrário, se os pegamos, protestam com miados, sem nunca porém atacar”, conta ele.

Rogério acrescenta que certos comportamentos dos Savannahs lembram os dos cães: “Gostam de pegar bolinhas arremessadas, procurar o dono que se esconde e passear conduzidos com guia.” Aliás, foram detalhes como esses que atraíram Rogério para o universo felino. “Em 2010, eu só gostava de cães até o dia em que tive a oportunidade de interagir com Savannahs e percebi que nada deixavam a desejar nos quesitos sociabilidade e interação, nos quais os cães se destacam”, conta. “Eles conciliam a elegância e a independência própria dos felinos com a socialização encantadora dos cães.”

Demonstrações de afeto também são típicas na raça. “Adoram fazer aquele carinho à moda dos gatos, esfregando a cabeça nas pessoas”, exemplifica Solange.