Educar cachorro: punir, sim, mas com sabedoria

Para começar a educar cachorro, é preciso ter em mente que as punições não fazem parte da etapa inicial do adestramento de cães. Para cada situação, o primeiro passo é sempre mostrar ao cão quais são os comportamentos aprovados, premiando-o enquanto age conforme o desejado. Essa é a técnica mais eficiente para se alcançar o objetivo de ter um cão bem comportado.

É injusto punir o animal por agir de forma diferente da esperada se não lhe for dada antes a chance de aprender a maneira certa de se comportar. Punições devem ser vistas como um recurso complementar, às vezes até desnecessário se o processo educativo for aplicado com habilidade, técnica e consistência e o cão for do tipo que colabora.

Adestrar cachorro: apenas dizer “não!” é pouco eficaz

Já pensou se as pessoas, ao deixar o carro em local proibido, recebessem apenas advertência verbal? É bem provável que a infração continuasse a ser praticada, já que a vantagem de deixar o carro perto do destino é maior que o incômodo causado pela advertência. Muita gente precisaria ser advertida várias vezes por dia.

Da mesma forma, o simples comando para cachorro “não!” dificilmente fará o cão deixar de repetir um comportamento indesejado, seja pelo pequeno incômodo que a advertência causa a ele, seja por ele poder se sentir recompensado com a atenção obtida, mesmo que na forma de bronca, cada vez que é pego em flagrante.
O segredo para desestimular a reincidência é associar o “não!” claramente a uma punição bastante desagradável para o cão (sem, entretanto, traumatizá-lo).

O momento exato

A única forma de relacionar uma punição com determinado comportamento canino é aplicá-la no momento exato em que a conduta indesejada estiver ocorrendo. Um dos erros mais frequentes dos proprietários de cães é repreender com atraso. Por exemplo, ao chegar em casa, a pessoa se depara com o pé da mesa roído durante sua ausência. Para mostrar a indignação, pega o animal, coloca-o na cena do “crime” e dispara um “quem fez isso?”. A ação de nada adianta.

O cão já foi recompensado pelo comportamento inadequado por ter se aliviado da coceira nas gengivas ou pelo entretenimento que obteve quando não tinha nada de mais interessante para fazer. Além disso, a bronca fora do momento certo pode criar uma associação de ideias inadequadas.

No exemplo mencionado, se a repreensão acontecer quando o cão ainda estiver recepcionando o dono, poderá associar “dono nervoso” com “retorno à casa” e o risco será de, daí por diante, o animal se sentir inseguro nessas ocasiões, manifestando ansiedade ou medo.


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Destruição: depois de consumada, é inútil dar bronca

Jeito certo de educar cachorro

A melhor forma de eliminar ou, pelo menos, de controlar um mau comportamento, é evitar que se torne hábito. Para tanto, é preciso frustrar a sua concretização desde o início, mostrando que não vale a pena continuá-lo. Isso pode ser obtido com uma punição que interrompa algo que esteja dando prazer ao cão no momento.

Por exemplo: se você e o cão estiverem brincando e ele mordiscar a sua mão, diga “não!”, vire as costas para ele, saia imediatamente do local e deixe-o sozinho por cinco minutos. Com isso, a punição será dupla: a perda da sua companhia e a interrupção da brincadeira.

Para o castigo produzir efeito, é preciso que seja consistente e que ocorra no momento exato do mau comportamento. Caso o cão reincida, repete-se o “não!” em conjunto com a punição. De maneira geral, até o cão abandonar um mau comportamento, será preciso puni-lo por três a dez reincidências. Ao mesmo tempo, em paralelo, os bons comportamentos serão recompensados, para que ocorram cada vez com maior frequência.

Agressões, jamais!

A prática de agressões físicas ou psicológicas deve ser descartada. Bater no cão com as mãos, com os pés ou com um objeto; dificultar a respiração dele com puxões de enforcador; fazê-lo sentir choques por meio de coleira eletrônica; dominá-lo fisicamente para obrigá-lo a ficar de bruços são todas atitudes que podem deixá-lo inseguro e cada vez mais desconfiado e agressivo com as pessoas.

O mesmo vale para as agressões psicológicas, as quais, apesar de serem inofensivas fisicamente, também podem assustar e traumatizar o cão. É o caso dos sustos dados com borrifos de água na cara do animal; com jato de ar comprimido ou de extintor de incêndio; com estouro de bombinha ou de saco plástico; ou com o barulho produzido ao bater no chão uma garrafa pet ou um jornal. Castigos como esses estão cada vez menos bem vistos pelo potencial que têm de traumatizar os cães.

Quem maltrata animais é enquadrado no art. 32 da Lei 9.605/98. A lei foi sancionada para aumentar a punição de quem maltratar animais. Quem maltratar cães e gatos passará a ter registro de antecedente criminal e, caso houver flagrante, o agressor é levado direto para a prisão onde será aberta uma investigação.


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Agressões, nunca: podem deixar o cão inseguro e cada vez mais desconfiado e violento com as pessoas