Bulldog: fama da raça pelo mundo

 

Foto: Bibbo Camargo/ Cão: Marrento/ Criação: Canil Topbulldogs / Proprietário: Alex Petrowiski

A lista de fãs da raça é extensa e quem se dedica a ela não mede esforços para preservá-la 

Os exemplos que atestam a fama e a popularidade do Bulldog Inglês são infinitos. A começar pelo número de registros da raça no Brasil, que se mantém entre as 10 mais numerosas há pelo menos 5 anos, segundo relatórios anuais da Confederação Brasileira de Cinofilia (CBKC). 

Daniel Ignacchiti Lacerda, do canil Topbulldogs, que em 2019 foi o primeiro do ranking CBKC na raça e figurou entre os melhores 10 canis entre todas as raças, conta que se apaixonou pelo Bulldog Inglês em 2000, quando viu um exemplar tomando água de coco na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. “O Bulldog é apaixonante porque ele nos intriga. Ele tem aquela aparência robusta, mas ao mesmo tempo é lento e desajeitado. Tem a fisionomia fechada, porém se derrete logo no primeiro contato. São fiéis companheiros e brincalhões. Impossível não se apaixonar”, destaca o criador, que iniciou sua criação em 2008. 

Fofura dos filhotes da raça é outro motivo para sua popularidade mundial -Foto: Canil Topbulldogs

Já Gilberto Medeiros, criador do canil Reserva do Rei desde 2003 e presidente da Associação Brasileira da Raça Bulldog (Abrabull) desde junho de 2020, lembra que o primeiro contato que teve com a raça foi através dos desenhos de Tom & Jerry e a figura caricata do Bulldog Spike. “Os Bulldogs são únicos em suas aparências (tipo e pelagem), não existe um Bulldog igual ao outro. Além disso, é um cão muito expressivo e a sua alegria, por vezes estabanada, e as suas diferentes ‘caras’ fazem com que ninguém passe indiferente à sua presença. Além disso, o Bulldog é um cão de família, extremamente dócil e que tem uma predileção especial por crianças”, aponta.

Nos Estados Unidos, embora o American Kennel Club (AKC) não divulgue os registros da raça, criadores de lá apontam o quão amados eles são na terra do Tio Sam. Link Newcomb, do canil Newcomb, uma lenda viva da criação da raça, reside na Califórnia, e até critica tal popularidade. “Acredito que não conseguimos produzir filhotes de forma compatível com a demanda pela raça, pois a comunidade de criadores da raça no AKC vem diminuindo, o que também pode ser percebido com a menor presença da raça em shows”, diz. 

Não é preciso dizer que o amor entre as crianças e a raça é recíproco – Fotos: Bibbo Camargo/Canil Reserva do Rei

Na Inglaterra, onde esse Bulldog nasceu, sua popularidade também é enorme. Por lá, segundo estatísticas divulgadas pelo The Kennel Club (TKC), ele obteve a quarta posição em registros em 2019, perdendo apenas para o Labrador, Buldogue Francês e Cocker Spaniel. O criador argentino Roberto Daniel Charbin, do canil Von Yarbin, se dedica à raça há 32 anos e há 11 atua como juiz em exposições na América Latina. Ele atesta a importância da Inglaterra na criação: “Eles têm excelentes criadores como Ocobo, My style, Nobozz etc.”.   

Cores populares

Branco, branco combinado com vermelho ou tigrado e branco são as cores que vêm tendo maior procura na raça no Brasil, aponta Daniel. Contudo, o criador faz um alerta: “Existe no padrão da raça (FCI) as descrições de cores altamente indesejáveis, que são: fígado, preto e preto com castanho”. Gilberto reforça a informação ao destacar que assinou a Resolução Administrativa nº 1/20, que oficializa o posicionamento contrário da Abrabull quanto à criação e à comercialização de cães da raça Bulldog Inglês portadores de pelagens exóticas e/ou diferentes daquelas descritas pelo padrão FCI nº 149 de 10/01/2020. “Essas cores são prejudiciais à raça, pois os genes responsáveis por elas também podem trazer consigo diferentes problemas de saúde, como é o caso da surdez já associada à pelagem merle”, alerta. 

Divulgação da raça

Chamá-lo de bonachão e preguiçoso é pouco: até a hora de amamentar a ninhada é boa para tirar sonecas – Fotos: Arquivo do Canil Will Be Bulls

Uma das formas de perceber quão querida a raça é por aí são os sites criados para ensinar tutores sobre o manejo adequado da raça, que exige alguns bastante especiais, principalmente, por serem braquicefálicos (veja quais são esses cuidados na reportagem “Manual do Bulldog”, edição 463 – Janeiro/2018, da Cães & Cia). O Bulldog Club, da gaúcha Eduarda Volpatto, que trabalha há 10 anos com a raça, é um exemplo. “Trabalhei com o renomado fotógrafo de cães Bibbo Camargo, antigo criador da raça e hoje responsável pelas fotos de plantel da maioria dos criadores do Brasil. Foi assim que adquiri muitos de meus conhecimentos sobre a raça”, conta a idealizadora do site, que surgiu inspirado no norte-americano Bullblog, mas voltado ao público brasileiro. “Meu objetivo com o blog é tornar o proprietário ou novo proprietário da raça cada vez mais criterioso, que ele seja exigente e seletivo na hora de adquirir um filhote, além de trocar experiências e dicas de como facilitar o manejo diário da raça”, diz. “Tem quem diga que o cão deve se adaptar à rotina da casa, mas com o Bulldog você precisa entrar um pouco no mundo dele: as refeições devem sempre ser supervisionadas para que não sejam ansiosos ao se alimentar; a manutenção, semanal; limpeza de rugas, ouvidos e cauda; e os passeios, limitados em dias de calor excessivo”, exemplifica Eduarda sobre alguns dos temas que aborda no blog.  

Daniel Ignacchiti Lacerda com Bulldog tigrado: cor vem crescendo no Brasil e no mundo – Foto: Bibbo Camargo/Cão: Janete/Canil Topbulldogs

O que faz dele apaixonante?

 Segundo o padrão da raça, o Bulldog é: “Alerta, valente, leal, confiável, corajoso, de aparência feroz, mas dotado de uma natureza afetuosa”. Assim, os motivos de tanta fama se estendem desde a aparência da raça – que apesar da carinha mais “carrancuda” não tem nada de feroz em seu temperamento –, até sua personalidade extremamente amigável e companheira. “Eu não conheço uma raça tão carinhosa, afetuosa e paciente como o Bulldog. É incrível a habilidade de socialização deles, em especial com as crianças. São leais e confiáveis com todas as faixas etárias”, aponta Daniel. “É um cão extremamente higiênico, divertido, dócil com tudo e com todos, e que adora estar junto à família”, endossa Gilberto. Ainda segundo ele, outro ponto que depõe a favor do crescimento da raça é sua adaptabilidade ao apartamento, pelo porte, que é médio (pode pesar entre 23 kg, fêmeas; e 25 kg, machos), e pelo fato de ser um cão silencioso. “Não me refiro aos roncos”, brinca o criador. “Outra característica que certamente o diferencia de outros cães é a sua determinação, o que lhe dá a pecha de ‘cabeça dura’, um charme perfeitamente compreensível por seus amantes”, continua Gilberto.

Eduarda Volpatto: superfã de Bulldog e criadora do Bulldog Club, site que dá várias dicas para tutores da raça – Foto: Arquivo de Eduarda Volpatto

“Bulldogs são muito especiais, por isso têm ganhado popularidade no mundo todo. Gostam de rotina, são teimosos e ótimos com pessoas, nem tanto com outros cães, infelizmente”, acrescenta a alemã residente na Espanha Petra-Grell-Hansohm, presidente do Club English Bulldog Spanish ([email protected]) e do World Bulldog Club Federation (Facebook: World Bulldog Club Federation), além de criadora da raça pelo canil Simplicissimus. 

Roberto Daniel Charbin e Bulldog Tronco: exemplar era personagem de programa de TV “Brigada Cola” e ajudou a deixar a raça mais popular na Argentina – Foto: Arquivo pessoal/Canil Von Yarbin

“Me apaixonei pela raça por ser única, não parece com nenhuma outra. São bem mais tranquilos que qualquer raça tipo bull”, diz Charbin, que era proprietário do Bulldog Tronco, responsável por grande parte da popularidade da raça na Argentina. “Há 27 anos Tronco estrelava num programa chamado Brigada Cola”, conta o criador argentino que, há 9 anos, fundou a página Club Argentino Del Bulldog Ingles no Facebook junto com outros criadores, com o objetivo de divulgar a raça.  

“Bulldogs só parecem ser bravos, mas ao chegar perto deles com a voz mansa a primeira coisa que fazem é se jogar no chão para ganharem uns apertos nas dobrinhas. Não aceitam ficar presos e longe do convívio da família. Para eles, o pior castigo é ficar longe dos seus donos”, descreve Eduarda. 

Quanto ao físico, Gilberto o descreve como um cão “de aspecto grande e poderoso num corpo relativamente pequeno”. “Seu aspecto de gladiador e toda a força de sua expressão contribuem para torná-lo um tipo totalmente ímpar em comparação aos seus irmãos de outras raças”, reforça.

Exposições brasileiras

Por aqui, o número de criadores que se dedicam à raça e participam de exposições vem aumentando. “As exposições especializadas da raça no Brasil e no mundo vêm crescendo exponencialmente. No Brasil esse crescimento vem acompanhado de maior estruturação física dos eventos e de melhoria na qualidade dos cães”, conta Daniel. 

Link Newcomb: criador tradicional da raça – Foto: Bucket Bitch

“Há 10 anos, o Bulldog teve um ciclo de apogeu no Brasil com muitas importações e participação massiva em exposições gerais, em muitas delas sendo a raça com maior número de inscritos. Ultimamente se observa um incremento no número de expositores que participam apenas de exposições especializadas”, revela Gilberto, que participa de eventos cinófilos com seus cães há 17 anos e, em outubro de 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus, realizou a Primeira Exposição On-line no Brasil. “Tivemos grande sucesso, com a participação expressiva de 94 Bulldogs”, comemora. 

Petra-Grell-Hansohm: de origem alemã, criadora participa como juíza da raça em exposições pelo mundo afora – Foto: Davidseri.com

Edgar de Sousa, do canil Will Be Bulls, que cria Bulldog Inglês há 10 anos em Lisboa, Portugal, já participou de exposições da Abrabull no Brasil: em 2018, ocasião em que seu Willbebulls Jajao conquistou um Best in Show, e em 2019, quando Willbebulls Optimus Prime venceu o mesmo título. “O Brasil é fortíssimo na criação da raça. Me surpreendi com sua popularidade no país”, aponta o criador europeu. 

Petra, que convive com a raça desde 1969 e a cria desde 1974, é juíza de muitas exposições da raça, inclusive no Brasil. “Para mim, os melhores criadores estão na Espanha, mas isso pode mudar. O número de Bulldogs em exposições é alto e eles têm uma ótima saúde, com boa movimentação e respiração, diferente do que já foi no passado”, opina.     

Efeitos da fama

Como toda raça que ganha notoriedade e fama mundial, existem os efeitos negativos que acompanham todo esse sucesso. Um deles é a reprodução caseira ou voltada apenas para o lucro. “Aquela história da pessoa querer um ‘netinho’ do pet e reproduzir sem critérios, muitas vezes trazendo problemas genéticos graves, somente pelo fato de o valor de mercado da raça ser alto”, alerta Eduarda.  

Sucesso na web

Vídeos e páginas estrelados por Bulldogs carismáticos inundam a web. Até o Guinness Book, o livro dos recordes, traz alguns Bulldogs recordistas, como é o caso do Tillman, que é o cão que percorreu mais rapidamente um trajeto de 100 metros, em cima de um skate, claro. Outro Bulldog que é celebridade no skate é Tyson, que já participou até do programa The Oprah Winfrey Show, nos Estados Unidos. 

Fotos que fizeram sucesso no perfil do Borges (à esq.) e da Mafalda em 2020: raça é destaque na web – Fotos: Simone Dario @photodogs.e.cia/ Instagrans @borges_o_bulldog e @mafalda_a_bulldog

No Brasil, as páginas de Instagram com cães da raça são sucesso. Como é o caso do Bulldog Borges, de 2 anos, e sua irmã Mafalda, de 1 ano, da jornalista Gisele Santos, de São Paulo. “Borges é a alegria da casa e me ajudou a melhorar a depressão pela perda de minha mãe”, compartilha Gisele, que fundou a página de Borges em março de 2019 e já tem até um fã-clube, a página: fan club @love_borges. “Criei o Instagram@borges_o_bulldog antes da chegada dele no meu lar. Era para minha família e amigos acompanharem o crescimento e dia a dia dele. De repente foi ganhando mais e mais seguidores e resolvi investir mais tempo na rede social”, conta a tutora, que após a convivência com Borges decidiu ampliar sua família canina. Foi assim que Mafalda chegou em sua vida. Aliás, seu perfil, o @mafalda_a_bulldog, tem quase o mesmo número de seguidores que seu irmão (que está com 49.000). “No Instagram tinha muito mais perfis da raça de gringos. Agora noto mais perfis brasileiros, inclusive de amantes da raça, onde divulgam fotos, trocam experiências sobre os cuidados”, revela Gisele. “Acho que são tão populares por serem gordinhos e simpáticos. Quando saio com eles todo mundo para. Uma vez eles pararam o shopping center, pois todos queriam fotos com eles e fazer carinho”, conta a jornalista.  

 


Agradecimentos:

Daniel Ignacchiti Lacerda: Canil TopBulldogs – www.topbulldogs.com.br

Edgar de Sousa: Canil Will Be Bulls – Facebook: Willbebulls ou Grupo Willbebulls Family

Eduarda Volpatto – www.bulldogclub.com.br

Gilberto Medeiros: Canil Reserva do Rei – www.reservadorei.com.br

Petra-Grell-Hansohm: Presidente do Club English Bulldog Spanish (cebi-es.com/web) e do World Bulldog Club Federation Facebook: World Bulldog Club Federation)

Roberto Daniel Charbin: Canil Von Yarbin – www.vonyarbinbulldog.com


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