3 problemas comportamentais mais comuns em aves

Conheça alguns dos problemas psicológicos e comportamentais mais comuns em aves.

A médica-veterinária especializada em animais exóticos e silvestres Maria Flávia Lopes Guerra afirma que o tédio e a falta de estímulos mentais e físicos são os principais fatores para o desencadeamento de problemas comportamentais em aves. Isso porque o animal cativo – criado dentro de gaiola – não recebe os mesmos desafios diários do que aqueles que vivem livres, que os mantêm ocupados e saudáveis. “Uma ave em vida livre gasta o seu tempo realizando a autolimpeza – ou higienizando outras aves -, procurando alimento, vocalizando e interagindo com outros animais”, explica a veterinária. “Infelizmente nenhuma espécie está livre de sofrer problemas comportamentais. Porém, os papagaios cinzentos-africanos e os do gênero Amazona são os que mais desenvolvem esse tipo de distúrbio, pois possuem maiores habilidades cognitivas”, conta.

Para sanar todas as suas dúvidas, nós conversamos com médicos-veterinários especializados no manejo de aves para explicar as principais causas e, claro, o melhor tratamento a ser prescrito conforme o problema comportamental. Vale salientar que os cuidados devem ser diários, por meio de uma criação responsável.

1. Depressão

A depressão está entre os males comportamentais mais recorrentes em aves. Maria Flávia explica que essa complicação pode ser uma das mais difíceis de se reconhecer e estabelecer um diagnóstico certeiro, pois apatia, falta de apetite e o hábito de ficar fora do poleiro podem ser sinais presentes em outras complicações de saúde. “Quando há a sinalização desses sintomas, o pet deverá ser avaliado por um médico-veterinário especializado, para descartar quadros de infecção, fraturas, neoplasias (câncer), e para então estabelecer um diagnóstico de depressão”, indica a profissional, enfatizando que o descarte dessas complicações é feito mediante exames meticulosos de sangue, radiografia e ultrassonografias nos animais.

Fora as doenças listadas, que podem deixar o animal mais prostrado, a veterinária ainda ressalta que, entre algumas espécies de aves, é comum o luto quando perdem seus tutores ou parceiros de penas. “Contudo, diferentemente da depressão, as aves em luto sempre voltam ao seu ritmo normal – aves amam rotina. Quando não há um regresso de suas atividades cotidianas, é porque existe alguma doença pré-existente a essa atitude, que com a imunidade baixa acaba por sucumbir”, alerta.

Maria Flávia é enfática ao salientar que após a análise médica detalhada e o descarte de doenças, os sintomas podem ser relacionados ao distúrbio comportamental. Tais sinais são frutos de manejo incorreto de aves, como não oferecer um ambiente interessante para o animal, o mantendo em poleiros e gaiolas de tamanho inadequado, por exemplo. Além disso, a alimentação deficitária em nutrientes e o isolamento, seja por um parceiro da mesma espécie como de seu responsável, também podem contribuir para o surgimento do problema.

Ainda segundo a profissional, para diminuir as chances desse mal e proporcionar uma criação responsável, os tutores podem colocar em prática atos relativamente simples, mas que farão toda a diferença no desenvolvimento do animal, não só físico como mental. “Para minimizar esse distúrbio, pode-se, com a ajuda de um profissional, tornar a alimentação mais diversificada, implementar novos cuidados e mudança de hábitos, como a socialização com pessoas e outros animais, ou proporcionar um ambiente estimulante, cheio de desafios”, orienta a veterinária, frisando que essas medidas devem ser tomadas durante toda a vida do pet e não apenas em momentos específicos. “A depressão é uma complicação difícil de evitar, já que os psitacídeos possuem uma expectativa de vida bastante longeva comparada a dos humanos. Então, cedo ou tarde, essas aves cativas serão submetidas a fatores estressantes, como mudança de tutores e ambiente”, destaca.

2. Arrancar as penas

Outro transtorno visto com frequência em clínicas veterinárias e por tutores atentos é o arrancamento de penas. Contudo, além das causas psicológicas, Marta Brito Guimarães, médica-veterinária de aves e animais silvestres da VetWings, em São Paulo, lembra que as aves também podem arrancar suas plumas devido a complicações dermatológicas, como em caso de foliculites bacteriana e fungicida (inflamação no folículo da pena) e processos alérgicos. “A diferença entre os problemas comportamentais e as doenças pode ser analisada, principalmente, com a anamnese e exame físico. Quando necessário, o médico-veterinário pode solicitar exames complementares, como cultura bacteriana, para a diferenciação das condições”, explica Marta.  A síndrome de arrancar penas também é comparada ao transtorno obsessivo compulsivo que ocorre em humanos.

As causas psicológicas para o animal realizar esse ato de agressão contra si mesmo podem estar ligadas à ansiedade, medo, frustração sexual, problemas no manejo – ambiente pouco desenvolvido, privação de sono e alimentação pobre – e estresse. “O animal pode ocasionar a destruição de diferentes formas. Alguns podem fazer a retirada direto do folículo, causando sangramentos, ou preservando o cálamo da pena (estrutura oca na base da pena)”, diz Marta.

Entretanto, mesmo sendo uma complicação recorrente, Maria Flávia informa que não há um tratamento veterinário ideal para sanar essa autoagressão. “Sempre iniciamos pelo tratamento conservador, ou seja, a correção de manejo alimentar e ambiental e a adaptação social de acordo com a espécie afetada. Cada caso é muito individual”, frisa.

Ela completa que complicações como essa, de cunho psicológico, sempre podem acontecer com esses animais  que praticam a automutilação. “É por isso que temos que ser cuidadosos para manter a qualidade de vida adequada para esses pets”, afirma.

Assim como os demais casos comportamentais, a agressividade pode ser derivada de complicações ligadas à saúde do animal

3. Agressividade

Assim como os demais casos comportamentais, a agressividade pode ser derivada de complicações ligadas à saúde do animal. Maria Flávia destaca um problema pouco conhecido dos tutores que pode ser o fruto do comportamento agressivo da ave: “Animais que não possuem fotoperíodo bem regulado, ou seja, que ficam acordados até de madrugada, estão mais propensos a desenvolverem atos agressivos. As aves devem dormir assim que anoitecer e acordar quando amanhece”, explica.

Ainda de acordo com ela, os psitacídeos – grupo das calopsitas -, por serem animais gregários, reproduzem tal comportamento quando estão em locais isolados, sem a supervisão de uma pessoa, ou sem seus pares. “Aves mantidas isoladas tendem a ser agressivas. Por isso, sempre se recomenda manter dois indivíduos juntos, não importa o gênero do pet: duas fêmeas ou um macho e uma fêmea”, informa a veterinária.

A agressividade também é recorrente no período de reprodução, quando os machos estão mais suscetíveis a reproduzirem esse comportamento. “Nos casos fisiológicos indica-se manter a ave em ambiente adequado ou com seus parceiros para a procriação”, orienta Marta.

Já o tratamento consiste na manipulação de medicamentos específicos, explica a veterinária da VetWings: “Deve-se procurar o médico-veterinário especializado para a intervenção medicamentosa com homeopatia ou calmantes naturais.” Maria Flávia também indica a reestruturação do ambiente e da rotina do animal e uma maior interação com o tutor. “O manuseio diário da ave e a interação de forma saudável – fazê-la empoleirar, ficar em cima da mão etc. – são alguns dos fatores que podem contribuir para a mudança de comportamento e o fim das atitudes agressivas”, finaliza a especialista. Sempre existe um motivo que desperta algum comportamento anormal. Esteja atento para conseguir notar logo no início e impedir que se agrave e vire um transtorno.