Pânico noturno em aves

O pânico ou terror noturno em aves é um assunto muito importante para os criadores e amantes desses animais, pois não existe hora nem lugar para acontecer e pode ser fatal. Observado com bastante frequência em Calopsitas (Nymphicus hollandicus), esse transtorno é caracterizado pela ave que se debate desesperadamente na gaiola, podendo sofrer danos severos e até vir a óbito se o proprietário não intervier a tempo.

O terror noturno é mais comum em exemplares que foram retirados do ninho muito pequenos para serem amansados. Muitas vezes, o manejo por humanos é iniciado já no dia do nascimento e isso faz com que as aves percam alguns instintos naturais, ficando mais “humanizadas” e vulneráveis à síndrome.

 
Arquivo pessoal/ Felipe Thomé Schettini

QUANDO O PÂNICO NOTURNO ACONTECE?

Como o próprio nome diz, o ataque acontece com maior frequência no período da noite, porém já houve relatos de alguns proprietários que presenciaram suas Calopsitas tendo a crise de “pânico” dormindo durante o dia, no colo deles ou até mesmo na gaiola delas. Por esse motivo, muitos defendem a tese de que as aves também podem sofrer com pesadelos, porém não existe nada cientificamente comprovado.

Quando acontece durante a noite, a crise é ainda pior, pois, como os proprietários geralmente estão dormindo e não podem socorrer o animal, ele pode sofrer consequências desastrosas. Imagine você, ao acordar pela manhã, ir cuidar de sua ave e se deparar com uma verdadeira cena de horror: sangue para todos os lados da gaiola, no chão, na parede e sua ave no fundo do viveiro, prostrada. Posso garantir que a experiência não é nada agradável.

CAUSAS DO PROBLEMA

Não existe um fator específico que desencadeie esse comportamento. Assim, a recomendação é que as aves, independentemente se foram humanizadas ou não, não devem dormir na escuridão total, pois provavelmente apresentarão esse comportamento. Alguns ruídos, insetos que possam se aventurar nas gaiolas à noite, lagartixas e roedores também são possíveis estopins para a ave entrar em pânico e se debater de forma descontrolada dentro da gaiola, podendo se machucar muito. Após o ataque, consequências graves costumam acontecer como fraturas de asas e pernas, traumatismos cranianos, sangramentos e hemorragias. Se estiverem em período reprodutivo, podem quebrar os ovos ou ferir seriamente os filhotes. Caso as aves vivam em grupo e apenas um exemplar apresente o pânico, prova- velmente os demais indivíduos também o terão, levando a uma reação em cadeia.

COMO REAGIR?

O primeiro passo a ser tomado ao identificar que a ave passou por um episódio de pânico (ou ao presenciar a crise), é falar tranquilamente com ela, em um tom de voz baixo e calmo, para que se acalme, pois provavelmente estará muito estressada. Manipule-a muito gentilmente para verificar se há algum ferimento. Se for identificado algum corte e estiver sangrando, não lave a ave, pois isso pode piorar o quadro, causando hipotermia.

Passe um pouco de açúcar para estancar o sangramento. Também prepare uma solução de água com uma pitada de açúcar e dê para ela tomar. Coloque uma lâmpada perto da gaiola para manter o ambiente aquecido até conseguir contato com um médico-veterinário especializado em aves. Os primeiros socorros podem ser decisivos no prognóstico.

EXISTE PREVENÇÃO?

O que tem sido feito para minimizar a ocorrência dos episódios de pânico – e que vem apresentando significativo êxito –, é deixar uma luz fraquinha ligada durante o período noturno, para que a ave possa se orientar. É importante tentar evitar a entrada de insetos, roedores e lagartixas no cômodo onde a ave costuma dormir. Não se deve deixar a ave dormir solta, pois se ocorrer a crise ela poderá se chocar contra objetos, machucando-se seriamente ou até mesmo, como dito no início deste artigo, morrendo.

Felipe Thomé Schettini,
médico-veterinário especializado em clínica e cirurgia de aves, animais silvestres e exóticos. Atendimento na clínica e pet shop Bicho Bacana, no Rio de Janeiro, e na clínica Saúde Animal em Itaboraí, RJ. Tel.: (21) 98195 6277 / (21) 99695 1136. Email: [email protected]
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