Richard Rasmussen: amante do mundo pet e dos animais selvagens

Um comunicador cativante e cheio de histórias para contar. É como podemos definir, em linhas gerais, o apresentador e biólogo Richard Rasmussen, que desde 2005 invadiu a telinha dos brasileiros trazendo aos apaixonados pela natureza muita informação e curiosidades que envolvem animais exóticos, silvestres e selvagens, incluindo diferentes facetas e culturas de um bicho cuja evolução suscita igual admiração ao biólogo: o Homem.
Seus cabelos tingidos pelo sol e o rosto marcado por experiências incríveis, como o ataque de uma Iguana temperamental, não deixam esconder a vivência aventureira desse economista que decidiu mudar o rumo de sua história, abandonando uma carreira bem-sucedida como auditor, e voltando às raízes de sua infância quando os animais faziam parte de seu dia a dia. O jeitão de Rasmussen agrada não só os admiradores de seus programas de TV, mas também as emissoras.
O mais novo projeto do biólogo envolve sua recente contratação pela emissora de televisão Fox, em 2013, onde é visto por mais de 143 países apresentando o programa O Mundo Selvagem de Richard Rasmussen (transmitido pela National Geographic). A seguir, confira o resultado de um bate-papo descontraído que tivemos com ele.Cães & Cia: Quantos pets tem hoje em sua casa?
Rasmussen: Convivo com 14 cachorros hoje: dois Rottweilers, dois Pit Bulls e os demais são todos vira-latas. Planejo ter um Border Collie também. Além dos cães, tenho como animais de estimação um casal de Antas e oito Quatis. Todos legalizados. Moro em uma chácara, pois bicho necessita de espaço, como a gente.
As pessoas precisam saber cuidar dos animais, ter condição adequada para isso. Admiro quem gosta de bichos, mas sobretudo, aqueles que gostam de cuidar dos bichos que têm.

Cães & Cia: Você estudou economia antes de fazer biologia. Porque decidiu mudar radicalmente de vida e trabalhar com animais selvagens?
Rasmussen: Fiz economia porque eu tinha um pai muito bravo (risos). Já queria ser biólogo desde criança. Morava em São Roque, no Jardim Guaçu, um bairro cheio de estradinhas de terra e que, na época, era um ambiente muito rural com diversos animais silvestres. Toda criança, sem exceção, quando tem a oportunidade de ter contato, gosta de bicho.

A gente perde esse gosto quando vai para o meio urbano e não tem mais o hábito diário de acordar com passarinho, ver morcego à noite etc. E eu tive a possibilidade de ter tudo isso durante a infância. Fui estimulado pelos meus pais a gostar de bichos, mas chegada a hora de escolher minha carreira, como meu pai era economista, filho de economista e neto de economista, me disse: “você será um economista!”. E como eu estava com 16 anos apenas, não tinha muita escolha.

Acabei me formando em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e fiz um MBA no Canadá. Trabalhei durante nove anos como auditor, mas sempre fui envolvido, paralelamente, com ONGs que atuam em prol da causa animal, viajava o Brasil pela causa, mas era só um hobby. Chegamos a desenvolver um projeto conservacionista com mais de 1.200 animais, superbacana, que durou quase 10 anos.

Um dia, decidi que não iria mais brigar com a cama para ir trabalhar (risos). Esse meu projeto paralelo precisava de um pouco mais de atenção para ir para frente. Foi preciso coragem para tomar essa decisão. Foi uma escolha difícil, mas feita com o coração.

Cães & Cia: Desde o início pensava em trabalhar no segmento de animais selvagens?
Rasmussen: Sim, escolhi trabalhar com os animais selvagens como profissão, embora os domésticos fossem uma constante na minha vida desde que eu era bebê.

Cães & Cia: Mas porque esse interesse maior pelos animais selvagens?
Rasmussen: Tem coisas que não conseguimos explicar. Porque tem gente que gosta mais de azul? Acho que tem a ver com essa coisa da floresta, de entender como as coisas funcionam, porque esse é o mundo real, o que construímos são obras do Homem, que é um ser maravilhoso. Mas esquecemos um pouco de onde viemos com essa correria que vivemos no dia a dia.

Cães & Cia: E como você foi parar na televisão?
Rasmussen: Cai de paraquedas! Não tinha ideia que um dia trabalharia na TV. Tudo começou quando uma produtora entrou em contato comigo, pois precisavam de um sapo para ser beijado e que se transformaria no cantor sertanejo Leonardo. Acho que era algum programa do tipo “um sonho de princesa” ou algo sim. E eu comecei a mostrar a eles o sapo, a serpente, um escorpião, a aranha e eles gostaram. Me perguntaram se eu não pensava em fazer televisão, pois disseram que levava jeito.

As coisas foram caminhando, acabamos fazendo um programa piloto e as fitas desse projeto foram rolando até que consegui, em 2002, o meu primeiro contrato, que foi na TV Futura. Em seguida, apareceu a Record. Mas eles queriam que eu levasse bichos ao estúdio e não sou muito fã disso por achar que as condições oferecidas nos estúdios não são ideais para os animais.

Cães & Cia: Você tem medo de incentivar as pessoas a retirarem animais da Natureza para ter como pet?
Rasmussen: Nossos programas sempre combateram esse tipo de atitude. Acredito que certas proibições são necessárias porque contribuem para o respeito para com os animais e às espécies que temos no Brasil, já que muita gente não tem conhecimento sobre as características e as necessidades deles. Sei que as pessoas só assistem aos meus programas porque animais estão presentes. Elas têm uma ligação com esse mundo mesmo quando não está presente no dia a dia, pois gostar de animais está em nosso sangue. Sei que conseguimos nos comunicar com as pessoas no momento em que elas estão prestando atenção num animal ou em uma situação que envolve animais e que pode ser perigosa.

Cães & Cia: E como é fazer televisão?
Rasmussen: É muito difícil fazer televisão e sobreviver nela quando não se sabe usá-la para entregar conteúdo e entreter. Se não houver entretenimento, você está fora. Não adianta fazer programas dignos sobre assuntos importantes sem atrair audiência.

Cães & Cia: E o que acha sobre animais silvestres ou os chamados exóticos que são comercializados como pet?
Rasmussen: Existe uma demanda no mercado para isso e esse tema faz parte das maiores convenções internacionais do combate ao comércio ilegal: ter a possibilidade de adquirir um animal silvestre para colocar em casa. Sou contra a compra de alguns animais por saber que não dão certo em cativeiro, mas a lista de espécies com criação permitida pela legislação está muito diminuta. O que é uma pena, pois leva as pessoas a procurarem meios alternativos, e isso também é uma pena.

Honestamente, sou contra ter um macaco em casa, por exemplo, por não ser um animal adequado para isso. É um bicho inteligente, que vai acabar com a sua casa e simplesmente não dá certo. Mas existem muitos animais que a nossa legislação deixa de contemplar e que poderiam estar em uma lista de possibilidades para as pessoas comprarem legalmente, o que é sempre melhor.

Então, eu defendo criadores comerciais, acho que é preciso ter uma política rígida e um acordo muito claro com quem vende, tanto com os estabelecimentos comerciais quanto com os criadores, para que saibamos que se o cara tem um bicho e ele não o quer mais, tem o direito de retornar ao criador ou vendedor, ou seja, precisa ter esse fluxo de ida e volta para que animais não acabem soltos em parques aos quais não pertencem. Para fazer isso, basta ter boa vontade.

Cães & Cia: Existe algum bicho que você nunca conheceu, mas que gostaria de ficar cara a cara com ele?
Rasmussen: Sim, e espero estar com este sonho realizado em abril de 2014 (N.R.: a entrevista foi concedida em fevereiro). Estarei frente a frente com Gorilas em Uganda. Esperei 10 anos para isso.

Cães & Cia: Porque Gorilas te fascinam?
Rasmussen: Alguns bichos são enigmáticos, pois estão desaparecendo. Existem apenas 700 Gorilas da Montanha no mundo.

Cães & Cia: Qual foi a experiência mais marcante que teve nesses anos?
Rasmussen: Como escolher uma? Realizar um trabalho como o meu é um privilégio e eu absolutamente reconheço isso. Tenho muita sorte. Nunca teria dinheiro para viajar como viajo. Que empresa pagaria caro para que você viajasse o planeta com quatro ou cinco caras e com equipamentos de televisão? E as coisas que pudemos testemunhar…Muitas vezes não sentimos na hora, mas depois, quando paramos para pensar no que já vimos…

Cães & Cia: E os bastidores? É tudo ensaiado ou tem improviso?
Rasmussen: Nós fazemos televisão, mas o programa é essencialmente verdadeiro. É um dos poucos programas que praticamente não tem falas, diretor… Claro que, depois, tudo isso precisa ser organizado e na National Geographic, especialmente na Fox, temos uma equipe muito grande para transformar as reportagens realizadas em um produto internacional. Mas durante o trabalho deixamos as “bolas rolarem”. Às vezes vamos fazer determinada coisa e começa a acontecer muito mais do que o esperado e você tem de estar pronto para agir. É ação! E é uma delicia. Essa é a melhor parte do nosso trabalho.

Cães & Cia: Existe algum bicho que não encararia de jeito nenhum?
Rasmussen: É a fêmea do ser humano (risos). Esse bicho dá medo. Já estou no meu quinto casamento e posso dizer que o bicho é bravo.

Cães & Cia: E essa tatuagem no rosto, tem algum significado?
Rasmussen: Quase perdi meu contrato na Fox por causa dessa tatuagem (risos). Me contrataram sem tatuagem e bem na reunião dos diretores cheguei com a tatuagem no rosto. Mas depois deu tudo certo! (risos). Fiz ela em 2012, quando a minha esposa número quatro foi embora e íamos fazer uma viagem na Nova Zelândia. Lá tem a tribo dos Maoris que tatuam o rosto. E quando entro nessas histórias eu participo muito. Isso é uma das coisas que é legal no nosso trabalho.

A forma como a gente mergulha na história e vive aquilo. Como acontecerá na viagem à África que comentei. Vamos passar lá dois meses e meio, só cinco caras. Então parece que você esquece tudo e começa a viver uma historia completamente diferente. Somos todos intérpretes, eu falando, outro fotografando, o câmera interpreta por meio do vídeo. Então tem que ter vivência naquilo para poder contar uma história para os telespectadores.

Cães & Cia: Poderia nos contar a história da cicatriz que tem no nariz?
Rasmussen: Quem fez isso em mim foi uma Iguana com muita personalidade – provavelmente uma fêmea (risos) – que era dona do lugar onde estávamos no Caribe. Para se ter ideia, quando ela chegava, os caras do hotel se afastavam para ela comer. Para gente que gosta de observar animais, um bicho com personalidade é fascinante. Quando cheguei perto da Iguana, comecei a brincar com ela e me distraí por um segundo. O bicho saltou em direção ao meu nariz e o agarrou.

Nunca tinha me acontecido isso. Já levei caudada, tudo, mas isso, nunca (risos). Ela se agarrou em meu nariz, mordeu e foi embora. Olhei para a câmera e estava com o nariz vermelho igual ao do palhaço Bozo. Colei o corte com aquela cola extra forte e instantânea, a Super Bonder. Aliás, ela foi desenvolvida para isso mesmo, durante a Segunda Guerra Mundial.

Cães & Cia: E em toda viagem que você faz, traz alguma coisa com você?
Rasmussen: Trago sim. Cada tatuagem que tenho é de um lugar. Uma da Argentina, outra da Paraíba, e tudo é ligado ao ser humano. Gosto muito de bicho, mas eu entendo o ser humano. Nós somos um dos animais mais difíceis que existe, mas temos uma história evolutiva incrível. A rapidez na qual em dois milhões de anos nos tornamos o que somos hoje, não tem comparação.

Cães & Cia: Para encerrar a entrevista, gostaria que explicasse o que é ser naturalista para você?
Rasmussen: Eu não sou um naturalista no sentido de ser vegetariano ou vegano, mas no sentido de ser uma pessoa que gosta da natureza e que tem contato com ela. Já tentei umas 20 vezes ser vegetariano, mas a proteína animal me faz muita falta, fico fraco. Admiro quem consegue, acho uma política muito bacana, mas infelizmente sou muito primitivo para isso. Meu corpo demanda proteína animal